Todas as Cores de Luiz Aquila
Uma exposição múltipla deste pintor carioca, com obras espalhadas por duas cidades
Olhamos um quadro mas não nos damos conta que o quadro nos olha. A pintura não é um espelho. A pressa e a distração – ou o hábito de olharmos apenas pra o espelho de nós mesmos – não nos permite olhar-sendo-olhado. O que Luiz Aquila nos propõe é o que ele vem fazendo desde a adolescência: que tenhamos esta vontade e coragem de ver.
E agora podemos vê-lo por toda a cidade em galerias, escolas, consulado, restaurante, banco, Central do Brasil - e também em São Paulo, numa galeria e na próxima Bienal. São cores e formas para todos os olhos, transfigurações de uma verdade ótica, mas não caótica como o olhar plano poderia imaginar. Quem vai a uma galeria obedece a um ato de vontade. Quem vê um quadro fora de seu contexto natural (natural?) – como na Central do Brasil – é pego de surpresa. Pode ter um susto, pode ter um toque, uma alegria, uma emoção que nem ele sabia estava lá no fundo, adormecida. E o que provoca isto – em muitos haverá de provocar – é um conjunto de cores e formas e emoções.
Não é uma exposição de pintor: é o pintor se expondo. Em várias frentes. Com todas as tintas, com todas as cores. Podemos ver trabalhos de Luiz Aquila, esta pintura que - se deixarmos – nos vê. E o que será que a pintura de Aquila acaba vendo em nós? Primeiro temos de saber o que vemos na sua pintura (Galeria Paulo Klabin) – e nos desenhos e gravuras (Galeria Sergio Milliet). O resto, é com cada um. Uma revelação sempre renovada. Não, não digam que é pouca coisa. Há um mundo dentro de nós e que só o mundo de fora nos pode revelar. A pintura serve como ponte – ponte que podemos atravessar agora neste “festival Aquila”. A própria idéia destas exposições múltiplas – espalhadas pela cidade como uma guerrilha de cores e formas, como estilhaços de vida – é um ato de generosidade. é ver para crer. Ou crer para ver. De qualquer forma (maneira de dizer: a forma, em Aquila, nunca é qualquer), bons olhos o vejam, pintor e pintura, pois assim bons olhos estarão nos vendo também.
O destino do artista é um destino de trabalho, escreveu Bachelard, em seu recente O Direito de Sonhar.
Flavio Moreira da Costa Fatos, 16 de setembro de 1985
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