Pintura e trabalho
Luiz Aquila busca a junção impossível entre cor e desenho. Usa tintas para deixar o rastro dos gestos superpostos em camadas. Porém, pratica pintura como disciplina intelectual de busca das formas. O choque entre os dois movimentos alimenta sua produção.
O artista lecionou na Universidade de Brasília. Essa academia, tal como a nova Capital, valorizava a sistematicidade e o planejamento da ação. A crença na estrutura torna-se, pois, uma experiência formadora.
Entretanto, o período seguinte de estudo na Inglaterra introduz a componente romântica da busca subjetiva pela expressão do individual. Na Slade School of Fine Arts, cada artista compunha o currículo segundo interesses próprios, travando contato com professores diversos, o que permitia a interação criativa entre áreas da cultura.
Aquila sintetiza, então, método característico, ao registrar momentos de um processo infindável de se aproximar de estruturas que não se podem representar. Por um lado, a pintura garante-lhe a certeza da coerência histórica da técnica. Por outro, os resultados variáveis da prática indicam a concretude do trabalho presente. “Gosto”, diz o artista, “da relação dinâmica entre ordem e quebra de estruturas”.
Na série atual, o encontro entre os opostos é evidenciado pelas colagens sobre tela, como em “A
Pintura com triângulos, e curiosa pelos losangos" (2006). O gesto desdobra-se em pinceladas longas e tiras rasgadas à mão. Mas a estrutura gráfica da paginação de jornal preserva a ordem visual abstrata, determinada por linhas e colunas. “O sentido das palavras não vem ao caso”, esclarece ele: “nem as leio. O que me interessa são as texturas formadas pelas retículas das fotos ou pelas letrinhas repetidas”.
O conjunto de desenhos permite visualizar o percurso produtivo com mais clareza. A concisão da área de trabalho explicita um fazer limitado pelas margens do campo escolhido, sem transbordar. A estrutura revela-se, portanto, na forma externa do suporte, apesar da ausência de rigidez no interior da composição.
No período da redemocratização, Luiz Aquila orientou os artistas da Geração 80, como professor do Parque Lage, no Rio. Desde então, representa opção pela obra de arte como registro do processo do fazer, associado ao hedonismo pictórico.
A produção do artista traz a São Paulo um aspecto que se firmou na história da arte contemporânea brasileira: a tarefa insolúvel de estruturar o desregrado, delimitando o informe.
Felipe Chaimovich Texto do catálogo da exposição “A Pintura Encarnada e Obras Recentes” na Galeria Valu Oria em maio de 2006.
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